Clara
Gurgel -
Apesar de
ter nascido sob um regime ditatorial, ela não se intimidou. A omissão
seria a opção mais provável para quem vivia numa situação privilegiada em
relação à maioria da população, mas ela fez uma escolha diferente. Foi à
faculdade, tornou-se mulher, esposa, mãe e, ainda assim, nada disso calou a
inquietação que sentia. Queria mais, queria a liberdade de expressão, a
liberdade de imprensa, queria o módico direito de “usar um celular” e a utopia
de derrubar um governo que há mais de 30 anos estava no poder.
Mesmo que
houvesse convicção, sabia que o caminho escolhido não seria o mais fácil. Com a
família ameaçada, tentativas de submissão e até mesmo de assassinato,
contrariou as expectativas e fez da repressão o combustível primordial
para o aumento do seu engajamento político. Foi às ruas, participou
e organizou protestos, foi presa por diversas vezes, e tornou-se um dos maiores
ícones na luta contra um governo opressor, sobretudo legitimada pelo seu povo,
ao qual retribuiu, tornando-se porta voz, levando o clamor de toda uma
nação aos quatro cantos do mundo. Quando questionada sobre o apoio da
comunidade internacional, se apressava em dizer que seus laços com
organizações e outros países eram laços entre iguais e não subordinação,
deixando claro a autonomia, uma de suas principais características até hoje.
Em 2005,
junto com mais sete mulheres jornalistas e ativistas, numa atitude sem
precedentes, fundou o “Mulheres Jornalistas Sem Correntes”, uma organização
calcada na defesa dos direitos humanos, e que acabou se tornando um marco no
seu histórico de conquistas, aumentando, e muito, a sua visibilidade.
Em 2011,
os protestos contra a longa opressão causada pelo governo em seu país
aumentavam, e ela encabeçou os movimentos mais representativos em
oposição ao regime, dentre eles, o chamado “Dia de Fúria”, similar aos que haviam inspirado as
revoltas no Egito e na Tunísia. Eram os ares da Primavera Árabe chegando ao
Iêmen, onde a jornalista e ativista Tawakul Karman foi peça
fundamental para a sua disseminação : “Nós vamos continuar até a queda do regime de Ali
Abdullah Saleh ... “ foram as palavras de Tawakul Karman, no dia 17
de março de 2011. E assim foi feito. Não resistindo a pressão, no dia 25
de fevereiro de 2012, Saleh, finalmente, renunciou à presidência e transferiu o
poder para o seu sucessor depois de 33 anos.
Ainda em
2011, Tawakul Karman é anunciada
como uma das laureadas do Prêmio Nobel da Paz pelo seu ativismo político. Do
acampamento onde estava em resistência ao governo de Saleh, disse que não
esperava e dividiu o prêmio com todos da Líbia, Síria e Iêmen que, como ela,
lutavam por uma vitória pela demanda de cidadania e direitos humanos. Logo
em seguida, na esteira da sucesso do prêmio, viaja ao Quatar em busca de apoio
para a instalação de uma rede de rádio e TV.
Atualmente no seu facebook, Tawakul Karman se
define “como uma cidadã do mundo, tendo a terra como pátria e a
humanidade como nação.”
Em sendo o Brasil também a sua pátria e nós sua nação,
esperamos receber em breve a visita dessa grande mulher que tem muito a nos
dizer sobre seus ideais de justiça e liberdade.
Karman,
"su casa mi casa"!